Mercado de quadrinhos impressos
Fazer quadrinhos para o papel é quase um fetiche que de todo moleque que cresceu lendo gibi de banca sonha. Mas o mercado de quadrinhos de hoje não é mais como antes (nos anos 80 um título vendia 150 mil exemplares, hoje as editoras se contentam em vender 5 mil exemplares de cada um das centenas de títulos que temos nas bancas e livrarias, ou seja, vende-se pouco, porém a variedade é gigantesca — deram o nome desse fenômeno de calda longa). Não é possível sustentar um artista vendendo 5 mil exemplares de revistas por mês, ou 2 mil livros por ano. É inevitável que o autor nacional se torne cada vez mais alternativo (fazendo pequenas tiragens, distribuindo de forma não convencional), ou migra para mercados onde ainda há uma indústria.
Livros
Durante o último ano e meio pensei que um caminho viável para produzir quadrinhos no Brasil seria a livraria. Mas só a livraria não basta. Editar 2 mil exemplares (pela Devir) ou 5 mil (pela Cia das Letras), apesar de ter um certo glamour, não resolve a vida do autor muito menos do leitor (você tem apenas álbuns que não rendem dinheiro para quem faz — calcule 10% de 2 mil livros a R$ 30 e chegue a essa conclusão –, e afasta o leitor comum que não está disposto a comprar um quadrinho desconhecido por R$ 30).
Internet
A internet surge como uma via que torna o quadrinho mais barato para o leitor (custo zero), elimina atravessadores (nada de editor, gráfica e problemas de distribuição) e dá ao autor liberdade (quase) infinita. Com a internet uma pessoa é ao mesmo tempo autor, editor e marketeiro de seu trabalho. Grandes poderes, grandes responsabilidades.
No curto prazo ninguém vai ganhar dinheiro com quadrinho online (afinal, ele é gratuito). Mas no médio prazo, já se tem algumas histórias de sucesso, como PVPonline (cujo autor atualmente vive da própria arte, vendendo livros copilados das histórias que aparecem no site — ah! e por não haver atravessadores, sua porcentagem sobre o preço de capa é de longe mais alta que os autores contratados por editoras, gira em torno de 80% — e uma série de bugigangas).
Mas não creio que a questão financeira seja o atrativo de se fazer webcomic. Ninguém vai ficar rico fazendo quadrinhos para a internet. E sei que dificilmente poderei largar meu emprego formal sem antes ganhar na loteria. Mas, muito me tem chamado a atenção três fatores: alcance, rapidez e comunicação direta com o leitor.
Alcance: se considerarmos também os usuários de rede pública (lanhouse), o Brasil possui 64,8 milhões de usuários de internet com mais de 16 anos. Rapidez: a publicação é instantânea, não precisa ir para a gráfica e nem ser distribuído. Comunicação com o leitor: o leitor pode opinar a respeito do seu trabalho de forma rápida e direta, sem intermediários.
Gosto de sentir o cheiro do papel e ver meus quadrinhos impressos. Sempre que tiver oportunidade, vou optar pelo impresso (em 2010 tenho dois projetos engatilhados para isso). Porém, não posso fechar os olhos para os webcomics e sua nova maneira de lidar com a publicação, edição e veiculação dos quadrinhos.
O caminho está dado. Só nos cabe ter boas histórias para contar.