Monotipias de Lume

Não sou um resenhista (e nem pretendo ser). Mas sempre que posso, gosto de deixar o registro de uma obra que gostei de ler, e, principalmente, quando esta obra dialoga com o universo ficcional que me inspira.

Monotipias é um desses livros.

Este é o terceiro livro de Luiza Nasser (ou Lume). Trata-se de uma coletânea de narrativas breves, e algumas nem tanto (a última história tem um tamanho que até justificariam uma obra própria), mas que em conjunto tem todo um significado especial.

Gosto muito desse tipo obra. E sei que o ideal é ler cada narrativa de forma isolada. Deixando um espaço de tempo entre cada leitura. É a melhor forma de absorver o conteúdo. Por isso levei bastante tempo para ler esse quadrinho, pois fui intercalando com outras leituras.

Terminei a leitura há pouco tempo e minha impressão é que Monotipias é um trabalho mais profundo da Luiza. É forte e sensível, o texto parece vir de dentro, e flerta com a poesia e o lirismo. É um olhar atento ao mundo, mas sob uma perceptiva única.

A forma como espaço é trabalhado nesse livro sempre causa um impacto ou uma sensação, também me chamou muito a atenção. É a demonstração de um forte domínio do uso espaço na página e cuidado com a composição.

Este não é um livro para ler e colocar na estante. Não me entendam mal: Monotipias é para ler e ser relido. Merece tanto uma leitura atenta quanto uma segunda visita à obra.

A edição do livro também é de muito bom gosto, com direito a capa dura e papel encorpado. O livro finaliza com um texto da Laerte dividindo suas impressões sobre a obra, que não é bem uma apresentação, e talvez, por isso, venha ao final da obra.

Uma chancela dessas é para poucos.

Se o mundo fosse justo, Monotipias estaria ganhando Jabutis, Hqmix e estaria sendo comentado em todas rodas. Mas você sabe que não é assim que as coisas funcionam.

Se ficou interessado na obra é fácil comprar diretamente com a artista.

Duas formas de escrever e um motivo para não desistir

Cheguei a algo como um terço da história nessa fase que é um híbrido de roteiro com o layout das páginas.

Meu processo tem sido basicamente escrever o texto que aparecem nos balões primeiro, e depois vem a fase de definindo imagens e ritmo no layout, cortando o excesso de texto e acrescentando onde se faz necessário. Essa é a forma com trabalhei a maior parte das histórias de Deslocados. Partir do texto e “adaptar” aos quadrinhos.

Em algumas páginas e sequências trabalhei de outra forma: texto e layout criados de uma só vez, como se estivesse criando uma charge, ou fazendo um trabalho quase de improviso. Essa é a forma como eu “escrevia” as tiras de Ato Revolucionário e Demônios.

É interessante a dinâmica de juntar essas duas formas de pensar quadrinhos.

Até agora eu estava trabalhando (reescrevendo) o início da narrativa. A partir desse ponto tenho quase pronto já algo como 10 páginas (seria como a primeira parte do meio da história). Essas páginas já no lápis, faltando a arte final. Elas precisam de alguns poucos ajustes, mas que em essência vão ficar como estão.

Gosto bastante do resultado dessas 10 páginas. Talvez a existência delas é que tenham me feito insistir nessa história ao invés de assumir mais uma derrota e partir para outro projeto.

Depois de ver Deslocados pronto, tive vontade de tentar escrever algo longo e que, de certa forma, trouxesse um pouco do meu traço mais estilizado. Não o traço das tirinhas, mais um meio termo, algo mais próximo às primeiras HQs desse meu primeiro livro.

Mas não vou me alongar nesse assunto. Esse é um bom tema para semana que vem.

Semana produtiva e duas lições

Os últimos dias tem sido bons. Tenho trabalhado no roteiro/storyboard da HQ longa, justamente no ponto em que minha escrita travou no ultimo ano. E o resultado tem sido bem interessante.

Foi um longo processo de reescrita e tentativas de layout das páginas até encontrar um caminho que parecesse natural para a história.

Duas lições

Talvez a lição que tiro desse percurso tortuoso é: se algo está travando o avanço do trabalho, é porque tem algo errado no roteiro, que precisa ser melhor esmiuçado.

E, por fim, e não menos importante: se você tem algo difícil para fazer, não fuja, não fique adiando enfrentar, sente-se na cadeira e faça, todos os dias, nem que sejam 15 minutos de esforço concentrado, pois a constância, e a ação incremental na tentativa de resolver algo que parece difícil uma hora dá resultado. É como construir uma parede, de tijolo em tijolo, você chega lá.

Sobre projetos difíceis

No processo de atualizar o site inteligivel.com eu revi meus trabalhos mais antigos, em formato de tiras (que você pode ler tudo de graça aqui).

É muito bom ver esse passado e a força que alguns personagens ainda tem hoje. Deu vontade de algum dia voltar a trabalhar essas narrativas curtas e, quem sabe, juntar o resultado em um compilado com o material antigo e o novo que ainda não fiz.

Mais isso é algo para o futuro. Voltar a fazer tiras. Ou continuar fazendo histórias curtas, parece ser o caminho “mais fácil”, porque é um caminho conhecido.

O desafio que tenho hoje em minha prancheta, de fazer uma narrativa longa, é algo que eu tentei algumas vezes e falhei. Logo, é um desafio que, por um lado mexe com minhas frustrações, por outro me estimula a conquistar uma habilidade, e um objetivo, que, para mim hoje, ainda parece muito distante.

É como querer subir uma montanha. É difícil, é cansativo, mas no final vale muito a pena: tanto pela vista lá de cima, quanto pela sensação de ter vencido seus medos e limitações.

E você? Tem algum projeto difícil que te desafia a continuar?

PS.: O desenho desse post é um rascunho rápido, feito com o tema da cena que estou trabalhando na história longa.

Site novo e o tempo voa

Estou terminando de atualizar o site, que a partir de agora usa o tema toocheke junto com o velho wordpress. É a melhor ferramenta atual para quem quer manter um site próprio de webcomics. Com várias funcionalidades e opções de customização.

Foi atualizando as seções do site é que “descobri” que neste ano faz 20 anos que comecei a publicar quadrinhos na internet. Minha primeira tirinha ainda está aqui para quem quiser conferir. Tem tudo a ver com o ato de fazer quadrinhos que, de certa forma, é algo “revolucionário” ante ao quotidiano tenta te engolir.

Embora seja inevitável, não gosto de pensar na passagem do tempo. Percebo que evito refletir sobre, tentando manter a cabeça ocupada e olhando pra frente e no agora.

Isso me faz lembrar que tenho uma história longa pelas metades na prancheta. Preciso voltar ao trabalho, algo que evitei nos últimos meses. Mas isso é algo para um outro post.

E você? O que você fazia há 20 anos e continua, de certa forma, fazendo hoje? Conta aí!

Café edição terror e voltando a trabalhar no roteiro da HQ longa

As imagens deste post são do quadrinho chamado Harpa, que estará na próxima edição da revista Café Espacial.

Foi uma experiência muito boa fazer essa pequena história. Pois me tirou de um trabalho longo e me fez lembrar o quanto o formato curto é, de fato, onde consigo me expressar com mais vigor.

O resultado ficou interessante. Mas fiquei na dúvida se a história que elaborei realmente estaria dentro do gênero terror. Embora tenha tripas, sangue e um ser místico, eu acabo chegando em algo mais pessoal e, em grande parte, reflexivo.

Deixei o julgamento para os editores. E Sergio Chaves e Lídia Basoli entenderam que coube dentro do gênero. É o bastante pra mim.

Quanto ao projeto longo, voltei a trabalhar nele.

Descobri que o roteiro tem problemas. Problemas me fizeram questionar o projeto como um todo. E, de certa forma, percebi que estava fugindo do embate. Com medo de falhar, eu procrastinava.

Sentei finalmente e encarei o abismo.

Tenho 20 páginas quase prontas no desenho. E um roteiro cheio de nós e as pontas soltas.

Pensei em voltar atrás. Abandonar o desafio de trabalhar em uma narrativa um pouco maior. Voltar a fazer histórias curtas. Desistir.

Mas ao olhar novamente para essas páginas prontas. Ler as ideias e devaneios espalhados pelos arquivos de texto aqui em meu computador “da prancheta”. Rever os rascunhos e anotações que que enchem um caderno. Tudo isso me fez acreditar que há de fato uma história neste material que precisa ser contada.

Lembrei da história do menino peixe que está aqui no site e que, apesar de gostar do resultado, eu nunca fiquei satisfeito com o final. Na seleção dos quadrinhos que entraram na edição do Deslocados, eu olhava para essa história e pensava: eu preciso reescrever o final.

E depois de um certo esforço, o final óbvio e necessário apareceu como que por mágica. E a versão final da HQ ganhou forma e hoje está no meu primeiro livro impresso.

Lembrar disso me fez ter certeza de que o que preciso fazer é insistir. Pois nada de fato nasce pronto e perfeito. Tudo que vale a pena demanda trabalho e dedicação.

Em tempo: a revista Café Espacial que está em pré-venda neste momento. Se você quiser garantir um exemplar com desconto é só clicar neste link.

Mas não é tão simples quanto parece

Continuando o post anterior, não é tão simples proteger suas artes das IAs.

Embora asar o Nightshade seja relativamente simples, o processo em si é bastante demorado. Foram mais de 30 minutos rodando a ferramenta para processar essas duas pequenas imagens:

Talez, com o tempo, o processo seja abreviado.

Rede social anti IA

Descobri essa semana que existe uma rede social voltada aos artistas com regras claras anti IA. Trata-se do “Cara”.

Essa nova plataforma tem ganhado muitos novos usuários após a Meta, empresa dona do Instagram e Facebook, divulgar que está usando as imagens postadas por seus usuários para treinar suas próprias IAs.

Já participei de várias redes sociais, elas vem e vão. E é exatamente por isso que mantenho meu site pessoal em um domínio próprio há tanto tempo. Porque aqui, faça chuva ou faça sol, quem dita as regras acaba sendo eu mesmo e minhas limitações. (Embora saiba que as novas gerações não conseguem sair dos apps e das redes sociais, o que acaba limitando bastante o alcance de um site pessoal).

De qualquer forma, fiz minha conta no Cara. Se quiser conhecer e me acompanhar por lá, entra aqui.

Nightshade e uma pequena esperança contra as IAs

A internet se tornou um local hostil para os artistas. Postar seus trabalhos na rede significa alimentar o banco de dados de IAs geridas por mega corporações.

Sempre fui entusiasta das webcomics. Leio e publico online há muito tempo. E já cheguei a pensar que o impresso poderia estar com os dias contados.

Mas hoje tenho dúvidas se ainda é uma boa opção publicar quadrinhos na internet.

Estou testando a ferramenta Nightshade, desenvolvida para “envenenar” as IAs que tentarem assimilar a imagem que for tratada com esse filtro.

É uma pequena esperança para tentar a continuar usando a rede para publicar meus quadrinhos.

A outra alternativa é publicar somente da maneira tradicional. Papel e tinta.

Eventos e sobre definir metas

Coloquei na barra lateral uma agenda com as datas das minhas participações em eventos e feiras de quadrinhos. Tenho presença confirmada em pelo menos 3 que irão acontecer agora no segundo semestre de 2024 (JundComics, HQ Fest Indaiatuba e Gibi SP Festival).

Acho importante estar presente nesses espaços, como forma de mostrar o trabalho e de certa forma formar um público. Embora meu foco neste ano não tem sido os eventos, e sim a produção.

E falando da produção: estou sentindo a necessidade de produzir mais em menos tempo.

Esta semana experimentei estabelecer uma meta diária a ser alcançada. Uma meta forte, de forma a criar uma pressão interna que me obriga a sentar na mesa e só desenhar.

Percebi que minha mente é muito hábil em desviar o foco. Uma meta clara me ajudou a manter o foco. Quero continuar fazendo isso, dobrando a aposta e seguir nesse ritmo.

Tenho trabalhado numa história curta. (Os quadrinhos abaixo são dessa história que estou terminando. Ainda não sei quando vou postar ela aqui no site se ela for aprovada para entrar numa revista, vou manter ela inédita aqui até o lançamento da revista).

Percebi que estava levando muito tempo para desenhar essa história curta. Mais que o normal. Quando defini um prazo e uma quantidade de trabalho a ser feito por dia, o processo mudou completamente.

Também percebi que estabelecer um cronograma a ser cumprido acaba nos obrigando a sair da zona de conforto. Nos estimulando a sermos criativos nas maneiras como lidamos com o tempo dedicado aos nossos projetos artísticos.

E você? Consegue trabalhar bem definindo metas?

Resenha: ‘Deslocados por Páginas Amarelas HQs’

Por Paginasamarelashqs (28 de abr 24)

Um rapaz que não sai de casa desde os 5 anos, um espelho misterioso que parece refletir outra dimensão e uma garota que possui, literalmente, pés de galinha. Essas são algumas das histórias exploradas por Leonardo Pascoal em Deslocados, seu primeiro álbum em quadrinhos.

Publicados originalmente no site inteligivel.com — e com duas indicações ao Troféu HQMIX —, os quadrinhos ganham agora uma versão definitiva.

Adentre nesse mundo de realismo fantástico criado por uma mente observadora e inquieta. Em meio a narrativas kafkianas e inigualáveis, você vai encontrar histórias de pessoas comuns, tais quais eu e você, que vivenciam momentos decisivos, engraçados, reflexivos ou de horror, com visões e experiências insólitas.

Fonte: https://www.instagram.com/reel/C6UhPXxvv3E/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==

Direto da prancheta

Estou trabalhando nessa HQ que será minha primeira história um pouco maior. A princípio algo como 60 páginas (podendo variar para mais ou menos a depender do meu fôlego e dos caminhos que posso tomar em determinado ponto do enredo).

Talvez as histórias curtas sejam meu formato ideal e não vou abandoná-las. Já tenho alguns roteiros prontos e é provável que vou intercalar períodos de trabalho nessa história maior e nas curtas.

De qualquer forma, é muito bom se desafiar às vezes.

Posso quebrar a cara (e não seria a primeira vez), mas quero pelo menos tentar.

Sinto que é essencial nas artes e na vida estar sempre experimentando algum caminho diferente ou uma nova perspectiva. Nos faz sentir vivos esses desafios.

Vez ou outra pretendo colocar algo do processo aqui. Um abraço!