Escritor e quadrinista: você deveria fazer histórias curtas

Eu acredito que o formato de narrativas breves é muito poderoso, por vários aspéctos. Um deles é que racionalmente é a melhor forma de começar a escrever ou desenhar.

Isso porque no início você não tem experiência e conhecimento suficiente para conseguir terminar um trabalho maior, que depende de mais fôlego.

Mas há mais vantagens que elenco logo abaixo e no vídeo que fiz para o meu humilde canal no youtube.

O vídeo foi mais ou menos como um teste. Não pretendo me dedicar muito à plataforma de vídeos. A ideia era experimentar como eu me sairia falando para uma câmera.

Ainda não sei avaliar se a experiência foi legal ou não. É bem provável que não vou insistir nesse formato de vídeo. Embora ainda quero voltar a fazer vídeos do processo de desenho. Estes sim, acho que são mais interessantes de compartilhar.

Bom, vamos ao momento de vergonha alheia:


E aqui o resumo do que tentei falar sobre as vantagens de se começar fazendo narrativas breves:

  • Começo gradual;
    • como uma escadinha, coloque mais um degrau à medida que for se acostumando (Ex. 1 página, 2 páginas, etc)
  • Espaço para experimentar;
    • a cada nova história, você pode mudar de caminho, experimentar;
  • Você vai aprendendo aos poucos;
    • a cada nova história, a chance de consertar o que não deu certo. SIGA EM FRENTE!
  • No final de um período você terá material para fazer um livro;
    • Ao final de um período, você terá material para fazer um livro seu juntando o melhor da sua produção.

E aí? Bora colocar em prática?

Entrevista Alan Moore ‘Como escrever histórias em quadrinhos’

Entrevista com Alan Moore publicada originalmente em The Comics Journal #119 (Janeiro de 1988),#120 (Março de 1988) e #121 (Abril de 1988).

Essa entrevista é uma aula sobre roteiros de quadrinhos. Citei ela na live do Yellow Talk Cast, com a certeza de que era facilmente encontrada na internet. Mas pelo jeito não é tão fácil assim. Por isso estou disponibilizando ela aqui no site para todo mundo que curte quadrinhos e, principalmente, para quem escreve ou gostaria de escrever histórias.

É só clicar aqui no link.

Na prancheta

Roteiro pronto para uma nova história. Pronto entenda: escrito e desenvolvido o suficiente para poder desenhar. Como eu mesmo desenho as histórias, dessa vez vou me dar a liberdade e abertura de incorporar o acaso ao processo.

Explico: há passagens na história que estão definidas no texto, mas podem ou não serem aumentadas ou diminuídas, de acordo com a evolução dos personagens ao longo do processo de desenho das páginas.

Desta vez, serão mais páginas do que estou acostumado a fazer. Algo próximo a 60.

Mas diferente do que aconteceu lá atrás, entre 2008 e 2013, quando tentei e falhei em trabalhar em histórias maiores, acredito que hoje estou com um pouco mais preparado para o desafio.

Não vou abandonar as histórias curtas. Tenho roteiros prontos para narrativas breves que pretendo desenhar também ainda este ano.

Mas sabe aquela sensação boa de estar fazendo algo diferente do que já fez? Então. Eu queria encarar esse desafio de fazer uma história maior.

Depois volto às curtas. Pois acredito que ainda tenho muito a contar nesse formato.

E você? O que tem planejado fazer nesse novo ano? Conta aí!

Curso de escrita do Lourenço Mutarelli

Em agosto deste ano fiquei sabendo meio que por acaso que o grande Lourenço Mutarelli estaria dando uma oficina online de escrita. Sempre tive vontade de fazer um dos cursos que ele ministra, mas quando morava em São Paulo nunca conseguia uma vaga (os cursos no Sesc, e antes no CCSP, sempre foram muito concorridos) e, depois, morando aqui no interior, ficou um pouco mais complicado a logística.

Quando me deparei com essa oficina online do projeto Balada Literária (capitaneado pelo monstro Marcelino Freire), não tive dúvidas e fiz logo a inscrição.

Foram quatro meses muito inspiradores. Em que o Lourenço dividiu o seu processo e propôs exercícios que estimulam você a escrever da forma mais espontânea possível.

Sem apelo a técnicas, ao certo e errado, sem dogmas. Mutarelli valoriza que cada um busque o seu jeito de fazer, seja por meio da experimentação, seja pelo retorno a suas memórias e vivências da infância. Algumas aulas funcionavam quase como uma terapia em grupo. Foi muito enriquecedor ver o material dos outros alunos e as experiencias de cada um.

Encerrado o curso, o que fica é a sensação de que voltei a ser aquele garoto que fazia quadrinhos na faculdade, de forma despretensiosa, ciente de seus defeitos, mas nem por isso intimidado pelo desafio. Acho que fui perdendo com o tempo esse sentimento, possivelmente porque comecei a valorizar muito mais os manuais de roteiro que meu instinto.

O grande conselho que fica das aulas, e que gostaria de ter ouvido lá atrás, é esse: valorize o seu jeito natural de fazer, e siga em frente, independente de qualquer coisa. Fazer porque é importante se expressar, sendo verdadeiro e experimentando no caminho.

E silenciando aquele nosso lado crítico que procura um “jeito certo” de se fazer e que, em certa medida, na busca por um resultado específico, acaba simplesmente podando a criatividade natural. Esse processo acaba criando uma espiral em que você faz menos, porque não gosta do que faz, e por fazer pouco acaba fazendo menos ainda.

Foi muito bom esse reencontro comigo mesmo.

Tenho escrito mais e de forma mais natural. E esse processo tem gerado vários roteiros para novas histórias curtas.

E tem mais: os alunos do curso se sentiram órfãos com o fim da oficina. Disso surgiu a ideia de fazermos algumas reuniões virtuais, continuando a rotina de exercícios e leituras. Pode sair daí talvez um coletivo, ou uma publicação em conjunto. Ainda é cedo, mas os frutos são bons e fico feliz de ter tido a oportunidade de fazer parte disso tudo.

Por isso recomendo para todos que querem escrever a oficina do Mutarelli (mesmo que seu objetivo final não seja a escrita, mas se você gosta do trabalho dele, é uma ótima oportunidade para conhecer mais profundamente a gênese de suas obras).

E, aos que não tiverem essa oportunidade, que pelo menos ouçam o conselho: deixe um pouco de lado os manuais, e o jeito “certo” de se fazer, e siga seus instintos, divirta-se com o que faz, se expresse de verdade, sem se preocupar com o resultado em si. Curta o processo.

A vida é curta, e o que importa é a viagem, não o destino.

Novamente muito obrigado, Lourenço!

Talvez escrever roteiros não seja criar uma história

Finalizei o roteiro de mais uma história curta que pretendo publicar aqui no site e, nesse processo de criação, cheguei a uma constatação desconcertante.

Às vezes parece que escrever roteiros não é propriamente criar uma história. Antes disso, parece que é descobrir algo que aparenta que já existia em algum lugar, apenas à espera de que alguém prestasse à atenção.

E esse lugar para qual devemos olhar e observar, parece ser a nós mesmos.

Mas olhar de verdade. Profundamente.

Assim como a busca por um tesouro enterrado, descobrir uma história é cavar profundamente em nossa mente.

Só assim podemos ver algo que nós mesmos não sabíamos que existia, mas que de certa forma, sempre esteve lá.

O grande dilema das narrativas curtas

Ainda estou trabalhando no roteiro da próxima história curta e, em alguma medida, tive alguns problemas com a sua escrita. Pensando sobre os motivos desse empasse, cheguei à conclusão de que o escritor, em especial aquele que escreve narrativas breves, possui uma grande responsabilidade em suas mãos. Explico: o espaço pode ser limitado, mas os personagens não, eles querem, senão precisam, contar a completude de suas histórias. Como as pessoas reais, os personagens querem que sua existência seja notada pelo mundo, de forma completa, e não apenas de relance. Entender essa angústia e tentar selecionar o momento mais significativo de suas vidas é uma tarefa difícil. Equacionar essa necessidade com um número limitado de páginas é um grande dilema.

Unidade em uma página só

Desenhei ao longo de 2017 (e 2016) basicamente histórias de 1 (uma) página.

Nos últimos tempos tenho feito HQs com 4 páginas, mas tenho tentado seguir uma métrica que consiste, basicamente, em considerar cada página como uma unidade em si, embora faça parte de uma história maior.

Acho que essa métrica me coloca mais próximo das páginas dominicais do início do século passado do que das histórias em quadrinhos publicadas em formatos mais longos.

Meu jeito de compor os quadrinhos, ao meu ver, também tem mais identidade com as publicações curtas, sobretudo as tiras.

Esse caminho tem pouca influencia o conteúdo das histórias. Mas são escolhas que, se conscientes, ajudam a definir um escopo e uma metodologia a ser seguida.

Métrica na construção de uma história

Tenho percebido que preciso de uma estrutura fixa de quadros em uma página, tanto para desenhar, quanto para escrever os roteiros.
Acho que esses grids funcionam como uma métrica. Estruturam e dão ritmo ao discurso.
Estou com algumas imagens de uma nova história na cabeça. Agora é hora de transformar esses vultos em uma espécie de música escrita.

Começando pelo final

Estou testando criar os enredos pensando primeiramente no final. O fim da história é o resultado das conquistas ou não das necessitados do protagonista. Começar a história de forma retrospectiva dá um senso de necessidades narrativas, quais cenas apresentar antes, o quê destacar, o que incluir, o quê omitir. 

Algumas vezes me deparei com esse tipo de conselho nos manuais de roteiro, mas geralmente eles não me convenciam da utilidade desse trabalho retrospectivo. No livro do Ryoki Inoue (Vencendo o desafio de escrever um romance), há uma passagem na qual o autor fala desse artifício de maneira clara e sem grandes dogmas ou mitificações. 

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