Duas formas de escrever e um motivo para não desistir

Cheguei a algo como um terço da história nessa fase que é um híbrido de roteiro com o layout das páginas.

Meu processo tem sido basicamente escrever o texto que aparecem nos balões primeiro, e depois vem a fase de definindo imagens e ritmo no layout, cortando o excesso de texto e acrescentando onde se faz necessário. Essa é a forma com trabalhei a maior parte das histórias de Deslocados. Partir do texto e “adaptar” aos quadrinhos.

Em algumas páginas e sequências trabalhei de outra forma: texto e layout criados de uma só vez, como se estivesse criando uma charge, ou fazendo um trabalho quase de improviso. Essa é a forma como eu “escrevia” as tiras de Ato Revolucionário e Demônios.

É interessante a dinâmica de juntar essas duas formas de pensar quadrinhos.

Até agora eu estava trabalhando (reescrevendo) o início da narrativa. A partir desse ponto tenho quase pronto já algo como 10 páginas (seria como a primeira parte do meio da história). Essas páginas já no lápis, faltando a arte final. Elas precisam de alguns poucos ajustes, mas que em essência vão ficar como estão.

Gosto bastante do resultado dessas 10 páginas. Talvez a existência delas é que tenham me feito insistir nessa história ao invés de assumir mais uma derrota e partir para outro projeto.

Depois de ver Deslocados pronto, tive vontade de tentar escrever algo longo e que, de certa forma, trouxesse um pouco do meu traço mais estilizado. Não o traço das tirinhas, mais um meio termo, algo mais próximo às primeiras HQs desse meu primeiro livro.

Mas não vou me alongar nesse assunto. Esse é um bom tema para semana que vem.

Semana produtiva e duas lições

Os últimos dias tem sido bons. Tenho trabalhado no roteiro/storyboard da HQ longa, justamente no ponto em que minha escrita travou no ultimo ano. E o resultado tem sido bem interessante.

Foi um longo processo de reescrita e tentativas de layout das páginas até encontrar um caminho que parecesse natural para a história.

Duas lições

Talvez a lição que tiro desse percurso tortuoso é: se algo está travando o avanço do trabalho, é porque tem algo errado no roteiro, que precisa ser melhor esmiuçado.

E, por fim, e não menos importante: se você tem algo difícil para fazer, não fuja, não fique adiando enfrentar, sente-se na cadeira e faça, todos os dias, nem que sejam 15 minutos de esforço concentrado, pois a constância, e a ação incremental na tentativa de resolver algo que parece difícil uma hora dá resultado. É como construir uma parede, de tijolo em tijolo, você chega lá.

Sobre projetos difíceis

No processo de atualizar o site inteligivel.com eu revi meus trabalhos mais antigos, em formato de tiras (que você pode ler tudo de graça aqui).

É muito bom ver esse passado e a força que alguns personagens ainda tem hoje. Deu vontade de algum dia voltar a trabalhar essas narrativas curtas e, quem sabe, juntar o resultado em um compilado com o material antigo e o novo que ainda não fiz.

Mais isso é algo para o futuro. Voltar a fazer tiras. Ou continuar fazendo histórias curtas, parece ser o caminho “mais fácil”, porque é um caminho conhecido.

O desafio que tenho hoje em minha prancheta, de fazer uma narrativa longa, é algo que eu tentei algumas vezes e falhei. Logo, é um desafio que, por um lado mexe com minhas frustrações, por outro me estimula a conquistar uma habilidade, e um objetivo, que, para mim hoje, ainda parece muito distante.

É como querer subir uma montanha. É difícil, é cansativo, mas no final vale muito a pena: tanto pela vista lá de cima, quanto pela sensação de ter vencido seus medos e limitações.

E você? Tem algum projeto difícil que te desafia a continuar?

PS.: O desenho desse post é um rascunho rápido, feito com o tema da cena que estou trabalhando na história longa.